São poucos os coquetéis que levam vinhos e espumantes em sua composição, mas são inegavelmente sedutores. Os coquetéis são, infelizmente, uma arte quase esquecida. Perdida nesses tempos de pressa e bebidas prontas engarrafadas e em plástico. Embora seus apreciadores, embora fiéis, estão em número cada vez menor e os grandes barmen lutam para manter viva sua habilidade (desenvolvida ao longo do último século) de misturar ingredientes e obter bebidas elegantes, sedutoras e diferenciadas.
Mais difícil ainda é manter essa tradição quando se trata de misturar vinhos com outras bebidas. Com o interesse crescente que temos tido nos vinhos, pouca gente quer se arriscar a misturar vinho com qualquer outra bebida.
Para os italianos, no entanto, misturar vinho com outras bebidas nunca foi problema. Em muitas áreas do norte da Itália é comum celebrar o começo da colheita de uvas com uma mistura de espumante e suco de uva fresco, servido em grandes quantidades para todos os que trabalham no campo.
Para os bartenders, chamados por muitos de ‘mixologistas’, existem dois pontos muito importantes na preparação de um bom coquetel: que as bebidas originais sejam de excelente qualidade e que, após sua combinação, novos sabores e perfumes sejam descobertos, revelando assim, a habilidade da mistura de ingredientes.
Nos coquetéis o que se busca não são os sabores primários da cachaça, do conhaque ou do licor de laranja, mas sim a originalidade de suas combinações. Os vinhos, nesse caso, têm menor teor alcoólico que os destilados e aromas e sabores mais sutis, assim devem ser combinados com o menor número de ingredientes possível, para que não sejam só um álcool de base, mas também possam deixar sua marca na bebida pronta.
No Brasil, a bebida mais popular que leva vinho em sua composição é o vinho quente, tão típico de nossas festas invernais. Mas engana-se quem pensa que o vinho quente seja típico brasileiro e somente preparado com vinhos de baixa qualidade. Esse tipo de bebida é uma tradição na Europa desde os romanos, onde o frio persistente fez com que as pessoas criassem uma preparação que levasse vinho, uma infusão de ervas, especiarias e frutas.
É também uma bebida tradicional na Alemanha (chamada Gluhwein), servida nas feiras de Natal e nos bares tradicionais há muitos séculos e, em princípio, o vinho era aromatizado com ervas e frutas para esconder o fato de que não estava mais tão bom quanto deveria. Com o passar do tempo, as técnicas de preparo e de conservação dos vinhos foram se modernizando, mas a tradição de aromatizar os vinhos não se perdeu, ao contrário, multiplicou-se em ponches, sangrias e coquetéis, da Europa para o resto do mundo. Mas a verdade é que o vinho tem que emocionar. Na fabricação de vinhos tintos as cascas das uvas vermelhas (roxas ou azuladas) são mantidas por algum tempo no processo e assim emprestam sua cor ao líquido.
Além dos pigmentos da cor, as cascas cedem também o seu tanino, que dá ao vinho tinto um paladar adstringente. O vinho branco pode ser feito de uvas brancas ou, mais raramente, de uvas vermelhas, desde que separadas as cascas no início do processo. Na indústria, o esmagamento é feito em cilindros metálicos perfurados, onde pás giratórias em alta rotação criam uma pasta de suco, cascas e sementes. Após alguns dias, o suco é então separado. Os vinicultores aproveitam o bagaço (cascas e sementes) para produzir a graspa ou bagaceira. O processo consiste em adicionar ao bagaço água fervida e açúcar, e deixar fermentar novamente, para depois destilar. Mas isto nada tem a ver com o fabrico do vinho propriamente.
Novidades: Curso de produção de vinho é garantia de empregoO curso que tem duração de 3 anos Durante os três anos do curso técnico de viticultura e enologia, os estudantes da Serra Gaúcha aprendem a cultivar a uva e a produzir os vinhos riesling itálico, chardonnay, cabernet sauvignon, merlot, sangiovese e tannat, vendidos e apreciados em todo o mundo. Além disso, ao concluir o primeiro curso superior de vitivinicultura do Brasil, o aluno sai capacitado para trabalhar em laboratórios de análises químicas, cantinas de vinificação e em culturas da uva, além de empresas exportadoras e importadoras de vinho, de mudas de videira, de insumos e derivados. Um dos pilares da economia gaúcha, a produção de vinho abriga grande parte do mercado de trabalho na região da Serra. Carlos Trevisan, professor do Cefet de Bento Gonçalves, salienta que da última turma de formandos, todos foram lançados no mercado. A competitividade, segundo ele, exige o incremento de uma produção de qualidade, que somente será alcançada com a inserção de profissionais cada vez mais capacitados. "As vinícolas da região dispõem de tecnologias comparáveis às dos países desenvolvidos e exigem profissionais com a melhor formação técnica. E aqui nós oferecemos essa capacitação", destacou.
O curso também tem a preocupação de despertar a capacidade empreendedora no aluno. Tanto que, em sua maioria, os proprietários das vinícolas são formados pela escola. Carol Panceri, 18 anos, estudante do terceiro semestre, sofreu a influência dos pais, produtores, na escolha da profissão. "É um setor em expansão e ainda existe a possibilidade de trabalhar em áreas afins, como harmonização e sommelier", disse.
Principal atividade econômica da região, as viniculturas reforçam a importância de os Cefets estarem vinculados às matrizes de produção local. "É por meio de audiências públicas que a comunidade escolhe os cursos que respondem às demandas da produção", explicou o secretário de educação profissional e tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Pacheco.
Cerca de duas mil famílias de agricultores vivem do cultivo de uvas na Serra Gaúcha. Grande parte dos agricultores utiliza mão-de-obra familiar, geralmente formada pelo Cefet. Naquela região existem 650 viniculturas. Cada uma delas deve contar com no mínimo um enólogo. Daí a garantia de empregabilidade do setor.
Uva do Nordeste - Outra região do Brasil que vem se desenvolvendo como grande produtora de vinhos e derivados é a do Vale de São Francisco, em Pernambuco. A exemplo do Cefet de Bento Gonçalves, o de Petrolina prepara e capacita a mão-de-obra local.
Luciano Manfroi, professor responsável pelo curso, destaca que há regiões com clima semelhante ao do Vale do São Francisco na América Central, na África e na Ásia, mas nenhuma delas apresenta a mesma capacidade de produção de vinhos brancos aromáticos, tintos frutados e espumantes. "O calor do clima semi-árido proporciona a colheita de até duas safras e meia por ano", disse. Manfroi lamenta apenas que a região não conte com trabalhadores especializados para atender o mercado, mas salienta que dentro de dois anos a região começará a colher os frutos do aprendizado da primeira turma do curso de viticultura e enologia iniciado no ano passado.
Os estudantes vêem a produção de vinhos como um mercado promissor. Se depender de Kaline Pinheiro e seus 57 colegas de curso, a importação de mão-de-obra está com os dias contados. A pernambucana de 20 anos aposta nos estudos por entender que a região vem se desenvolvendo. "Estudo das 13h às 18h, fora as aulas práticas. No final de 2007, pretendo estar no mercado de trabalho", disse. Empolgada com a oportunidade, a estudante diz que é importante abrir os olhos da comunidade para a implantação do cultivo do vinho na região.
Mercado - O Cefet de Bento Gonçalves produz os vinhos elaborados com matéria-prima da área conhecida como Vale dos Vinhedos, primeira indicação de procedência para vinhos brasileiros. O centro elabora cem mil litros de derivados de uva por ano, seis variedades de vinho, um espumante e um destilado.
Segundo a divisão de enologia da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, o principal município produtor de uvas é Bento Gonçalves, com 91.486 habitantes, conhecido como capital brasileira do vinho. Seguem-se Flores da Cunha, Caxias, Farroupilha e Garibaldi.